Evolução das Moléculas

No mundo pré-biótico inicial, pode-se dizer que a primeira forma de seleção natural que ocorreu foi simplesmente uma seleção das moléculas mais estáveis e uma rejeição das mais instáveis.

Para que consideremos que a vida tenha surgido aqui na Terra temos que admitir o surgimento de uma molécula replicadora, independente de qual era a atmosfera primitiva existente e qual era a constituição química  dessa molécula. Essa molécula teria surgido através da união espontânea de seus monômeros constituintes que estariam na sopa primordial e teria a capacidade extraordinária de criar cópias de si mesma.

Logo que essa molécula surgiu ela deve ter espalhado suas cópias rapidamente pelos mares, até que o número de seus monômeros constituintes livres no meio foi ficando menor. Nessa situação, portanto, nós teríamos uma grande população de réplicas dessa molécula espalhadas pelos mares primitivos. Entretanto, devemos notar que o processo de replicação dessa molécula inicial não era perfeito e que erros eram cometidos e os erros eram cumulativos.

Portanto, num certo momento, o caldo primitivo deve ter sido povoado por variedades de moléculas replicadoras diferentes. As moléculas que se replicavam mais rapidamente, que eram mais estáveis e que produziam menos cópias erradas acabaram por aumentar seu número em relação às outras, ou seja, elas estavam sendo selecionadas, estavam evoluindo!

Na medida então, que os blocos de construção para esses replicadores foram ficando mais escassos, é provável que tenha havido uma competição entre essas moléculas. As cepas de moléculas que eram mais estáveis e se replicavam com maior velocidade e precisão sobreviviam, enquanto as outras cepas aos poucos se extinguiam. Portanto, estava ocorrendo uma verdadeira luta pela sobrevivência entre as linhagens de replicadores.

O processo de melhoramento das moléculas era também cumulativo. Moléculas que eram capazes de aumentar sua estabilidade e de diminuir a de seus rivais eram mais adaptadas e mais eficientes. Algumas variedades talvez tenham "descoberto" uma forma de quebrar quimicamente as moléculas de linhagens "rivais", de forma a destruí-la e a utilizar seus monômeros para fazer suas próprias cópias. Outras moléculas poderiam também ter descoberto como se proteger desses ataques, talvez formando uma parede de proteínas ou lípides ao redor de si. À partir desse momento, os replicadores começaram não só a existir, mas a constituir envoltórios protetores. Hoje, sabemos que os replicadores que sobreviveram foram aqueles que construíram as máquinas de sobrevivência mais eficazes para morarem.

As primeiras máquinas de sobrevivência provavelmente não passaram de um revestimento protetor, mas à medida que os replicadores foram evoluindo, suas máquinas de sobrevivência foram tornando-se também maiores e mais complexas, sendo esse processo cumulativo e progressivo.

Hoje, cerca de 4 bilhões de anos depois, qual seria o destino desses replicadores? 

 

"Com certeza eles não morreram pois são antigos mestres na arte da sobrevivência. (...) Mas não os procure flutuando livremente no mar. Eles abandonaram essa liberdade há muito tempo. Agora eles apinham-se em colônias imensas, vivendo com segurança dentro de robôs desajeitados gigantescos, murados do mundo exterior, comunicando-se com ele por meio de vias indiretas e tortuosas, manipulando-o por controle remoto. Eles estão em mim e em você. Eles nos criaram, corpo e mente. E sua preservação é a razão última de nossa existência. Transformaram-se, esses replicadores. Agora eles recebem o nome de genes e nós somos suas máquinas de sobrevivência."

Nenhum comentário:

Postar um comentário